Como Big Techs Lucram com o Colapso da Democracia
Desinformação vende. Golpes também. E os algoritmos sabem disso. A democracia, por outro lado, não dá lucro.
Imagine um sistema que monetiza a mentira, automatiza o golpe e exporta instabilidade política em escala planetária. Essa é a engrenagem das big techs na era da pós-verdade, como denuncia o professor Marcelo Chiavassa em entrevista ao IHU. Sua leitura é cortante: as plataformas digitais são hoje tão perigosas quanto o tráfico de drogas. E, talvez, ainda mais sofisticadas no alcance e na impunidade.
A lógica é simples e perversa: o conteúdo absurdo gera mais engajamento. Conspirações, fake news, ataques às instituições democráticas, tudo isso performa melhor nos algoritmos porque apela diretamente à emoção. E quanto mais engajamento, mais monetização. Não estamos falando apenas de política, mas de um modelo de negócios estruturado sobre a destruição do debate público.
Chiavassa vai além: as big techs já não são apenas grandes empresas. São uma tecno-oligarquia descentralizada, ou talvez os senhores feudais do Varoufakis, que controla fluxos informacionais, consumo e comportamento em escala global. É o poder do século XXI: quem domina os dados, governa. E não precisa mais de tanques.
Nos EUA, vimos o caso Cambridge Analytica, a manipulação das eleições e a posterior dança de cadeiras entre CEOs do Vale do Silício e cargos estratégicos nos governos Trump. No Brasil, vimos a máquina de desinformação mobilizando multidões, elegendo candidatos com 15 segundos de televisão e promovendo tentativas golpistas a partir de memes, bots e teorias lunáticas.
É nesse ambiente que o absurdo se torna política. E o golpe, modelo de negócio.
Enquanto a esquerda ainda tenta debater com lógica, a extrema-direita entendeu a gramática da viralização: indignação fabricada, memes, bots, impulsionamento emocional. Steve Bannon escreveu esse manual. Jair Bolsonaro o tropicalizou. E Elon Musk, hoje, o financia.
Diante disso, a proposta de responsabilização das plataformas não é censura. É reação mínima ao colapso civilizatório. Chiavassa defende um marco regulatório inspirado no Digital Services Act europeu. América Latina e África continuam na lanterna da regulação, e não por acaso são também alvo preferencial dos laboratórios de instabilidade digital.
Se a democracia quiser sobreviver ao século XXI, vai precisar aprender a lidar com um inimigo novo: não são tanques, nem exércitos. É o algoritmo.


